POR INÁCIO ARAÚJO
Um aspecto de “A Árvore da Vida” que chama vivamente a atenção é o tipo de cenografia escolhida.
Na parte antiga, anos 50, é exemplar a organização, desde as ruas, com sua simetria, seus terrenos uniformes como as casas, bem como a decoração da casa, também uniforme em sua modernidade. Isso não se transforma quando chegamos aos anos 2000, embora o cenário se transforme de forma radical, passando aos grandes arranha-céus.
Em ambos existe uma organização racional, ou uma tentativa racional de intervenção do homem no mundo: acomodar da melhor maneira possível as famílias, os seres, os desejos.
Em oposição, existe o mundo, ou antes, o caos do mundo, que se manifestará na tristeza do filho, na frustração do pai, no desencanto da mãe.
O homem põe e o mundo dispõe, em suma.
Pois este é, em grande medida, um filme sobre a arte. Sobre a tentativa humana de superar o caos do mundo, de dar-lhe forma, de submetê-lo pela forma.
Forma que pode ser arquitetônica ou musical, tanto faz.
Tenho a impressão de que existe um equívoco na suposição de que, por evocar o princípio dos tempos, o filme tenha implicado algum tipo de busca religiosa. O início dos tempos, assim como a saída dos seres da água designa, antes, a universalidade do tema: o esmagamento do filho pelo pai. E, depois, o desejo do filho de ver o pai morto. O Édipo, em suma. A acreditar em Ferenczi, a oposição ao pai viria das águas. As águas representam uma memória do ventre materno, da existência intra-uterina, segura e garantida contra todo mal, ali onde o feto é completamente feliz.
A forma é a grande, terrível luta do artista, primeiro, mas do homem em geral. Dar forma a um mundo infinitamente caótico. E, quando chega à forma, ela lhe escapa, obriga-o a uma nova operação, a um novo entendimento do mundo.
Talvez isso surja com clareza não apenas na figura do pai, incerto entre a música e a engenharia, a forma abstrata da música e essa outra, arquiconcreta, da produção para o mundo. E ainda dessas formas, não mais paradoxais, mas francamente contraditórias, do órgão, instrumento que lembra a religião, é certo, mas sobretudo esse tempo eterno a que aspira a convicção religiosa, em contraste com a afirmação de precariedade, de efêmero, do design moderno.
“A Árvore da Vida”, filme realmente raro, tem esses dois ramos: a percepção daquilo que é permanência na aventura do homem na Terra, aquilo que se repete de geração em geração, mas também a perpétua transformação das coisas, como uma árvore.
Um comentário:
Doido pra ver este filme!
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