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domingo, 26 de junho de 2011

Acorda, Dilma! Eles enlouqueceram.


Carlos Chagas
Em 1968 a União Soviética levava às últimas consequências sua tentativa de conter reações no mundo comunista. Invadira a Tchecoslováquia com tanques, canhões e soldados para ninguém botar defeito. A última resistência restringiu-se à Universidade de Praga, onde os estudantes rebelados e já derrotados escreveram no muro da reitoria: “Acorda, Lenin! Eles enlouqueceram!”                                                     �Uns por presunção, outros por cautela, os principais auxiliares econômicos  da  presidente Dilma  evoluem sobre o conteúdo do seu mandato.  O que fazer, o que mudar, o que conservar?                                                      �É aqui que mora o perigo, porque ministros e dirigentes do PT demonstram arrogância e já tentam enquadrar o futuro conforme suas tendências e seus compromissos. Começam a ameaçar com mais ajuste fiscal, mais sacrifícios e mais  neoliberalismo, depois de curta  temporada de promessas de campanha, ano passado, destinada a angariar votos e garantir o poder.�                                                  �
Chega a ser agressiva a postura adotada pela equipe econômica, feliz por  continuar mas  incapaz de perceber chegada a hora de mudar de vez o  modelo que nos assola desde os tempos do sociólogo. Pregam tudo o que faz a alegria dos potentados, dos  banqueiros  e dos especuladores, esquecendo-se da classe média e até se preparando para retirar das massas o alpiste oferecido há pouco  como embuste eleitoral.  Senão vejamos: 
Prevêem os áulicos de Dilma que desta vez virá  a reforma da Previdência Social. Traduzindo: vão restringir direitos  dos aposentados, desvinculando de uma vez por todas do salário mínimo os vencimentos de quem parou de trabalhar. Pensionistas e aposentados do INSS e inativos  do serviço público que se virem, porque receberão sempre menos do que os funcionários e trabalhadores em atividade. Quem mandou envelhecerem? Não demora muito estarão todos nivelados pelo salário mínimo. Ao mesmo tempo, mantém-se o  desconto previdenciário para os que deixaram de trabalhar,  como se disputassem novas aposentadorias, sabe-se lá se no céu ou no inferno.                                                      �Em paralelo, a equipe econômica já alardeia que os reajustes de  salários  vão minguar, ou melhor, não haverá nenhum este ano, para o funcionalismo. Jamais isso  acontecerá em anos eleitorais, assim, há esperança para 2012. Mesmo assim, encostarão na inflação,  na dependência dela não crescer muito. Mais ainda: os responsáveis pelos juros altos são os assalariados e os aposentados, não os especuladores e os banqueiros cujos lucros, em todas  as previsões,  só farão crescer.�                              �
No capítulo das reformas diabólicas, asseguram que desta vez virá a reforma trabalhista. Para restabelecer direitos surripiados nos oito anos do sociólogo? Nem pensar.  Para extinguir as poucas prerrogativas sociais que sobraram. Por exemplo: vão acabar com a multa por demissões imotivadas e  vão autorizar o parcelamento em doze vezes ao ano do décimo-terceiro salário e das férias remuneradas.  Como a cada ano os salário e vencimentos perdem parte de seu poder aquisitivo, em poucos anos as parcelas estão incorporadas à perda, ou seja, desaparecerão. 
Outra iniciativa a assolar o país no mandato da presidente Dilma está sendo a contenção dos gastos públicos, atendendo a exigências do poder econômico. Não apenas demissões em massa no serviço público e retomada do processo de privatizações, mas cortes em investimentos de infraestrutura, saúde, educação, habitação e congêneres.
Ninguém se iluda se, a prevalecer a cartilha dos neoliberais incrustados no governo, logo se propuser a privatização da parte da Petrobras que continuou pública, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica e até dos presídios, como já acontece com os aeroportos. 
Nada melhor do que para atender as exigências do PCC, do CV e congêneres, vender as cadeias à iniciativa privada.  Algumas vão virar hotéis de cinco estrelas, para os   bandidos que puderem pagar.  O resto que se vire…  
Numa palavra, ainda que verbalmente, os auxiliares econômicos  de Dilma Rousseff estão assinando uma nova “Carta aos Brasileiros”. Trata-se da  repetição de que desenvolvimento e crescimento econômico acontecerão às custas dos mesmos de sempre, porque está  guardada  para o fim a maior de suas pérolas: reconhecendo que a carga fiscal anda insuportável para quem produz e para quem vive de salário, voltam a prometer que  na reforma tributária em gestação farão com que  “mais cidadãos paguem impostos, para  todos os cidadãos pagarem  menos”.
Trata-se do  maior embuste produzido por esses  embusteiros. Significa que o pobrezinho, até hoje livre de impostos por não ter o que comer,  começará a pagar com um único objetivo oculto: aliviar a carga fiscal do grande, daquele que pode pagar e que ficará  profundamente agradecido por  pagar menos.  
Diante dessas previsões, só resta mesmo gritar aos sete ventos: “Acorda, Dilma! Eles enlouqueceram!”

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