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domingo, 25 de julho de 2010

Saiu na Ilustríssima da Folha de S.Paulo

André Setaro fala sobre a crítica de cinema

EUCLIDES SANTOS MENDES
DE SÃO PAULO

Três perguntas para o crítico e professor de comunicação na Universidade Federal da Bahia André Setaro -que tem textos reunidos na trilogia "Escritos Sobre Cinema" (Edufba/Azougue, org. Carlos Ribeiro, 656 págs., R$ 65).
O que é a crítica de cinema?

A rigor, a função da crítica de cinema é ajudar o espectador a percorrer o itinerário do filme com um mínimo de conhecimento da sua linguagem, de modo a permitir que se reconheça, durante o trajeto, aquilo que é importante e o que não é. Uma função, portanto, que, mesmo antes de se reportar à apreciação estética da obra considerada no seu conjunto, incide sobre a sua sucessiva "racionalização", quer dizer, a tradução em termos lógico-discursivos do sentido poético que ela exprime através dos procedimentos de significação que lhe são próprios. É necessário que o aspirante a crítico construa primeiro um repertório para depois se aventurar na análise fílmica. A crítica é a arte da paciência.
O cinema é uma arte em crise?
A linguagem cinematográfica, a partir de David Wark Griffith -diretor de "O Nascimento de uma Nação" (1915), filme que instaurou a montagem narrativa com eficiência dramática-, foi sendo elaborada e enriquecida durante seis décadas do século passado. Os realizadores inventores de fórmulas, que contribuíram na evolução da linguagem (Orson Welles, Hitchcock, Godard, tantos!), se esgotaram em meados da década de 1960, quando houve uma espécie de exaustão e a invenção foi substituída por estilos pessoais. O cinema é uma arte em crise porque todos os bons filmes já foram feitos, como gostava de dizer o cineasta americano Peter Bogdanovich.

Como caracterizaria o cinema brasileiro contemporâneo?
Ao depender da captação de recursos, perdeu muito a sua independência criativa. Se houve evolução na técnica (a qualidade pode ser comparada a dos filmes estrangeiros), não se percebe, atualmente, a emergência estética. O chamado cinema de invenção (Ozualdo Candeias, Mojica, Sganzerla...) não tem mais espaço no panorama atual. A produção mais independente se encontra concentrada nos filmes feitos em digital por uma nova geração (como os apresentados na Mostra Aurora de Tiradentes neste ano).

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