Ernesto Geisel, presidente da República, da ativa ou da reserva? De acordo com as “normas” ou as “regras” impostas pelos que tomaram o poder, tinha que ser de 4 estrelas e estando ainda na “ativa”.
Helio Fernandes
De forma elegante, amável, delicada, o leitor que usa apenas as iniciais G. B., me “cumprimenta pelo texto”, mas discorda de colocações minhas, a respeito do general Geisel ter assumido a Presidência da República (em homenagem ao leitor, que presumo militar, não usarei as aspas habituais) “estando ainda em serviço”. Ou seja, na ativa. Se diz PERPLEXO, vou tentar livrá-lo desse sentimento, nada confortável.
Apesar de primeiro aluno, Ernesto Geisel fez carreira lenta, com mais sucesso (inicial) na atividade pública do que mesmo na carreira militar. Só chegou a capitão com 32 anos. (Prestes, por exemplo, aos 23 quase 24 anos, já estava nesse posto. Antes dos 30 deixou o Exército por VONTADE PRÓPRIA , seDEMITIU, em 1936 foi EXPULSO. Que República).
Essa citação das promoções tem muita importância, principalmente para a resposta e pela citação de G. B. de que Ernesto Geisel “foi 4 anos presidente da Petrobras”. E foi mesmo, explico depois. General de brigada em 1961, com 58 anos, logo em novembro do “prodigioso” movimento de 64, promovido a general de divisão, com 61 anos.
Agora a “chave” de tudo, que provocou a tua PERPLEXIDADE e o fato, queRARÍSSIMAS pessoas conhecem, que é rigorosamente verdadeiro. Geisel e Golbery foram intimíssimos. Golbery teve seu apogeu de 64 a 67. Em 1974, “voltaria” como Chefe da Casa Civil de Ernesto Geisel, mas não fez mais nada, Geisel “pensava que fazia tudo”.
(Contarei a “genialidade da estratégia” de Golbery, de março/abril de 64 a novembro de 1966, quando cumpriu objetivos programados, internamente e exercitados no país inteiro. Hoje, o espaço é do general Geisel. Mas não esquecerei de Golbery. Abandonarei análise pessoal sobre sua vida, mostrarei as “genialidades” praticadas por ele dos 9 meses de 1964 até outubro de 1966).
Chefe da Casa Militar de Castelo Branco, o general Ernesto Geisel e Golbery eram amigos e fizeram essa amizade crescer pelo combate que davam a uma possível candidatura de Costa e Silva à sucessão de Castelo. Este, como sempre, não diretamente, estimulava os dois. Com isso, era mais do que conhecida aINIMIZADE entre eles.
Costa e Silva, que esperava assumir o Poder total logo em 1º de abril de 64, se considerou “traído”, aceitou o Ministério da Guerra, para controlar tudo. No final de 1965, início de 66, Costa e Silva era tido e havido como futuro presidente, embora o Planalto “trabalhasse” contra ele. Nessa época, Costa e Silva resolveu viajar ao exterior, na verdade não era uma viagem e sim um desafio.
Como sua viagem era “pública e notória”, apregoavam: “Será demitido na ausência”. Podem dizer tudo de Costa e Silva, menos que fosse covarde ou não participante. E mostrou e demonstrou isso no aeroporto, ao dizer: “Embarco Ministro e volto Ministro”. Que foi o que aconteceu. Quem teria coragem e força para demiti-lo? Esses fatos são importantíssimos, para revelar aESTRATÉGIA perfeita de Golbery, para salvar a ele e Ernesto Geisel.
Convencidos (ninguém tinha dúvida, principalmente os dois, que manobravam tudo) que Costa e Silva ocuparia mesmo o Planalto, seriam atingidos e não teriam mais nenhuma importância, Golbery então traçou o plano para “fugir” da presidência Costa e Silva, hoje revelo apenas a parte que coube a Ernesto Geisel.
Era o seguinte, dividido em etapas. 1 – Em junho-julho de 1966, Geisel ainda era general de divisão. 2 – Com a concordância e a cumplicidade de Castelo Branco, em outubro/novembro (ainda de 66), aos 63 anos (tardíssimo) foi promovido a general de exército. 3 – Era a primeira parte do “plano de fuga”.
4 – Em dezembro, Ernesto Geisel foi nomeado ministro do STM (Superior Tribunal Militar), cargo privativo de general de exército, da ATIVA. 5 – Sua intenção: assumiu com quase 64 anos, a “expulsória” era aos 70, iria para casa, Costa e Silva não poderia atingi-lo de maneira alguma.
6 – Mas como hoje, muita gente faz planos para dentro de quatro ou até oito anos à frente, o futuro favoreceu Ernesto Geisel. Costa e Silva teve um “AVC” em meados de 69, foi considerado “incapacitado” e morreria em dezembro desse mesmo 1969.
7 – Geisel, que pretendia ficar no STM até 70 anos, saiu imediatamente, logo nesse 1969 foi nomeado presidente da Petrobras. (Ficou lá os quatro anos rigorosamente certos, citados por você). E mais teria ficado se mais lhe fosse necessário.
8 – Acontece que em 1973, sua candidatura presidencial já se fortalecera, se concretizara, se consolidara, até mesmo por causa do veto ao irmão Orlando para suceder Costa e Silva. (Não muito íntimos, Ernesto era espartano, Orlando ateniense. Era tido e havido como o “aristocrata” do exército, o que não agradava a Ernesto. Tiveram uma briga até violenta, quando Orlando foi “escolhido e nomeado” presidente da então multinacional Light, com salário astronômico.
9 – Portanto, G. B., tua “perplexidade” tem razão de ser, é que a situação ficou dúbia. Eu não estou errado, é que ao “fugir” da realidade Costa e Silva, o então Ministro do STM não podia imaginar que chegasse ao Alvorada por causa da irrealidade da morte do mesmo Costa e Silva.
Agora, desculpe, G. B., as reformas institucionais não foram feitas por Castelo Branco. O sistema militar, da forma como surgiu a partir de 1930, era um Prêmio Nobel coletivo, principalmente para coronéis e generais. Ocupavam os mais variados e importantes cargos civis, não passavam para a reserva, eram promovidos fora dos quartéis, navios e aeronaves, um festival nunca visto.
A chamada “oficialidade jovem”, (prejudicada, não era promovida, e não saindo ninguém “lá de cima”, não havia promoção na parte de baixo da pirâmide) pressionou os constituintes de 1945/46. Obtiveram vitória razoável, embora não definitiva.
Criou-se então a “Lei militar dos 8 anos). Qualquer oficial do Exército, Marinha ou Aeronáutica só podia ficar fora da atividade militar por esses 8 anos, seguidos ou interrompidos. Mas isso só passou a valer a partir de 1947, dezenas ou centenas de generais só colocavam a farda para solenidades ou coquetéis (Logicamente, não “Molotoves’).
Mais tarde é que foi feita a reforma total e importantíssima, que dura até hoje, a “Lei dos 12 anos”, que democratizou, que palavra, a permanência dos generais na ativa. A aposentadoria ocorria quando o general atingia 64 anos. Fizeram então o seguinte, com esquadro, régua, recorrendo à aritmética, e que agradou (ou não desagradou) a todos.
Os generais continuaram a se aposentar aos 64 anos, ou então nas condições que estabeleceram. Só podiam continuar na ativa, como generais, 12 anos (a partir de brigada) ou quatro anos de general de exército.
Como os coronéis geralmente eram promovidos aos 50/52 anos,chegavam aos 64 iam para casa, sem prejuízo ou preterição.
***
PS – Houve um único caso, precisamente com Ernesto Geisel. O general Euler Bentes Monteiro chegou a general mocíssimo, aos 48 anos, com 60 caiu na expulsória. Geisel prometeu a ele a presidência da Petrobras, preferiu nomear o japonesinho Shigiaki Ueki. (Hoje, com mais poços de petróleo no Texas do que a família Bush. Ueki e os filhos moram lá, raramente voltam ao Brasil).
PS2 – Ninguém se aproveitou mais do Exército do que Ernesto Geisel. Fez duas carreiras, s-i-m-u-l-t-a-n-e-a-m-e-n-t-e, uma civil, outra militar. Segundo-tenente no Rio Grande do Norte, também secretário da Fazenda.
PS3 – Promovido a primeiro-tenente, (e no Exército, a cada promoção, um “remanejamento”) foi para a vizinha Paraíba, o interventor Gratuliano de Brito nomeou-o secretário de Desenvolvimento. E assim, praticamente até o último e mais elevado cargo.
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