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sexta-feira, 15 de julho de 2011

Aécio e Kassab: duas xeroxs


Sebastião Nery
BELO HORIZONTE – A historia de Juscelino foi uma guerra, naquela Minas plácida e sonolenta do século passado. Nascido em Diamantina em 12 de setembro de 1902, filho de caixeiro-viajante e professora, órfão de pai tuberculoso ainda criança, seminarista, telegrafista, estudante de medicina, em abril de 1930 ganhou bolsa e foi para Paris.
Voltou no fim de 30, abriu consultório em Belo Horizonte, entrou para a Policia Militar como medico e participou da “revolução de 32” contra os paulistas, ao lado de Benedito Valadares, depois nomeado por Getulio interventor. JK foi ser chefe de gabinete e não saiu mais da política.
Em outubro de 34, deputado federal mais votado de Minas. Golpe em 37, volta à medicina. Em abril de 40, prefeito de Belo Horizonte.
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JUSCELINO
Em dezembro de 45, novamente o mais votado do Estado para a Constituinte de 46. A UDN esperava que Pedro Aleixo, presidente do partido, fosse o deputado mais votado na capital. Ou Milton Campos. Foi Getulio : 12.208 votos. Segundo, Juscelino : 7.024 votos. Terceiro, Milton Campos : 4.134. JK era o segundo depois de Getulio. Luz e maldição.
Herdeiro eleitoral evidente de Vargas (João Goulart ainda estava no Rio Grande), Juscelino atraiu contra ele toda a fúria da UDN, que então comandava a maioria da imprensa nacional. Não era só Carlos Lacerda na “Tribuna da Imprensa”. Era o “Diario de Noticias” dos Dantas, “O Globo” dos Marinho, o “Estado de S. Paulo” dos Mesquita.
Ganhando o governo de Minas com Milton Campos em 47 contra Bias Fortes, do PSD,a UDN mineira começou cedo a guerra de 50, quando sabia que Getulio seria candidato imbatível a presidente e JK a governador. Lançou Gabriel Passos, concunhado de JK, casado com uma irmã de dona Sarah, e tentou ajudar o melancia Carlos Luz, metade PSD metade UDN, a ser o candidato do PSD. Juscelino venceu a convenção e a eleição.
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UDN E PSDA batalha final foi transferida para 55. Juscelino já assumiu o governo do Estado em 50 candidato a presidente em 55. Getulio se matou,
Café Filho assumiu, a UDN tomou conta do governo, Lacerda dava as ordens. Nereu Ramos, presidente da Camara dos Deputados, propôs a Juscelino uma reunião do PSD no Rio. Lá estava o presidente do partido, Amaral Peixoto, e, entre outros, o governador de Pernambuco, Etelvino Lins, do PSD, mas corpo e alma de udenista. Etelvino propôs o adiamento das eleições de 3 de outubro para o Senado, a Camara e as Assembléias.
Alegava que, depois do suicídio de Vargas, o PTB teria uma votação em massa, que irritaria os militares. Com Etelvino, concordaram Nereu, Benedito Valadares, presidente do PSD de Minas, Lucas Nogueira Garcez, governador de São Paulo, outros. Era a tese de Lacerda, da UDN e de Raul Pila, do PL. Juscelino viu o ovo da serpente e vetou :
- “Como governador de Minas, lançarei mão de todo o poder que me confere o cargo para impedir que o calendário eleitoral seja alterado”.
Recuaram. Houve as eleições e nada aconteceu do que diziam : o PSD tinha 112 deputados passou para 114. A UDN com 84 caiu para 74. O PTB com 51 subiu para 56.E Jango perdeu o Senado no Rio Grande do Sul.
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BENEDITOMas era preciso saltar primeiro os obstáculos de Minas. Benedito Valadares, chefe do PSD de Minas, morria de medo dos militares e não queria Juscelino de jeito nenhum. E JK dependia de ser aprovado primeiro pela Executiva Estadual. Depois de tensas horas trancados numa reunião dramática até a madrugada, ainda me lembro da cara emburrada, de boi chuchado, de Benedito, cabeça baixa, humilhado, pálido, saindo lá de dentro derrotado, pela primeira vez, no partido. Por um voto.
Afinal, em 10 de fevereiro de 55, dos 1.925 delegados da convenção nacional, 1.646 aprovaram a candidatura de JK. Contra, unânimes, os diretórios de Pernambuco (Etelvino), Santa Catarina (Nereu), Rio Grande do Sul (Perachi Barcellos), 160 da Bahia (Antonio Balbino), e 26 do Rio.
Em 27 de janeiro, a “Voz do Brasil” divulgou documento em que “militares apelavam por um candidato único e civil”. Juscelino respondeu com um discurso duro : – “Deus me poupou do sentimento do medo”.
E saiu pelo pais pregando desenvolvimento e “50 anos em 5”.
Em 3 de outubro, dos 9.066.698 votos, Juscelino teve 3.077.411 (36%), Juarez 2.601.166 (30%), Ademar 2.222.725 (26%) e Plínio 714.379 (8%).
Em 31 de janeiro de 56, JK era o presidente da Republica. O golpe da UDN, de 50, 54 e 55, tinha sido mais uma vez adiado. Para 1964.
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CORAGEMDesde Juscelino, Minas está escorraçada da presidência da Republica. Aécio Neves quer disputar 2014 com Dilma, falando em JK. O paulista Kassab criou um partido, chamou de PSD, usando JK. Querem ser duas xerox. Falta-lhes o que sobrava em Juscelino: coragem e verdade.

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