Total de visualizações de página

Seguidores


segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Hélio Fernandes e as eleições


Dilma presidente, nenhuma surpresa. Agora começará uma espécie de terceiro turno. Entre ela e Lula, ela e o PT, ela e o lobista PMDB. O país é o mesmo, os personagens, iguais?

Helio Fernandes
Não havia a menor possibilidade de erro: Dilma ganharia a eleição, o que deveria ter ocorrido no primeiro turno. O que aconteceu de circunstâncias, adiando a decisão para 28 dias depois, nem interessa. O importante e irrefutável: Serra não tinha uma possibilidade em um milhão de ser presidente.
Ele mesmo errou na análise e nas conclusões. Afirmou textual e taxativamente: “Tive 33 por centos dos votos, Dilma 46 e Marina 20 por cento. Somando os meus votos e os de Marina, chegávamos a 53 por cento, provando que o povo queria segundo turno”.
Impressionante a falta de compreensão de Serra para os fatos. Digo há 8 anos que “Serra jamais será presidente”, ele não conseguiu obter vantagem nem mesmo enfrentando candidata sem experiência política ou eleitoral, sem capacidade de articulação, sem carisma, sem competência, sem projeto, sem programa, sem compromisso.
Lula, o metalúrgico, com três derrotas, duas vitórias e a compreensão de que só seria vitorioso se não elegesse “nenhum dos grandes do PT”, se fixou em Dona Dilma. Foi um dos raros a entender que não ganharia nada se elegesse Dirceu, Palocci, Mercadante. Tinha que “inventar”, foi buscar alguém que não existia.
A capacidade de Lula se revela e se confirma, gostemos ou não gostemos dele. Não sai de cena, embora não possa ter certeza dos caminhos que serão trilhados pela sucessora. Não há espaço obrigatório para pessimismo ou otimismo, e sim para Dilma e Lula.
Quem não ficou na posição favorável que esperava, é Aécio Neves. Não participou do primeiro turno. Serra perdeu. Participou do segundo, Serra esteve longe de conquistar os votos que precisava. Mesmo dentro do PSDB, a tranqüilidade não dominará o dia a dia da vida do ex-governador de Minas. E Aécio será cobrado por esse resultado.
E é impossível negar a vitória espantosa e grandiosa de Dilma em Minas. Não dá para esquecer ou esconder.
Um fato importante, que precisa ser ressaltado com bastante interesse, é a abstenção. Foi de 22 por cento no primeiro turno, de 21 por cento ontem. Apenas menos 1 por cento, mais de 25 milhões inscritos. É muito.
Serra teve mais votos do que em 2002, quando foi candidato pela primeira vez. Sua votação é maior, direta e proporcionalmente. Isso pode estimular José Serra a concorrer pela terceira vez, em 2014. Não é ilusão, estará APENAS com 72 anos.
Dona Marina desapareceu, eu já dizia isso há muitos dias, depois do primeiro turno. Devia ter se AFIRMADO, feito declaração do voto (dando uma de Tony Blair), caminhando através de uma TERCEIRA VIA. Não tem condições.
***
12 FATOS QUE MERECEM DESTAQUE
1 – O primeiro candidato vitorioso determinado ontem foi Agnelo Queiroz, ex-PCdoB, que entrou para o PT. Mas a vitória não foi dele nem do partido, e sim da ficha-limpa. Quando Roriz renunciou e colocou a própria mulher, a eleição estava decidida. A mulher de Roriz teve ontem, no segundo turno, exatamente a mesma votação do primeiro.
2 – Fato não assinalado por ninguém, embora já esteja confirmado há 28 dias. Os 9 estados, indiscutivelmente os maiores, elegeram governadores no primeiro turno: São Paulo, Minas. Estado do Rio,  Ceará, Bahia, Pernambuco, os três do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
3 – Apenas Goiás (pelos 4 milhões de eleitores) e Brasília (por ser capital) ficaram para o segundo turno.
4 – O Tribunal Eleitoral acertou inteiramente em aplicar o ficha-limpa, mas errou totalmente depois. Devia ter decidido imediatamente nova eleição para o Pará.
5 – Jader Barbalho, que teve 57 por cento dos votos e foi cassado, anulou a eleição, e Paulo Rocha (que também terá o mesmo destino) também será cassado.
6 – O TRE não pode repetir o constrangimento de ter entregue o governo do Maranhão a Roseana Sarney, depois de 2 anos e meio de sua derrota.
7 – Na Paraíba, Cássio Cunha Lima, depois de quase 3 anos, perdeu o mandato, numa votação “decidida” por 4 a 3. O TSE entregou o mandato ao derrotado José Maranhão. Disputou a reeeleição (sem nunca ter sido eleito), não venceu no primeiro turno. Ontem, José Maranhão foi fragorosamente derrotado. O TSE deve estar envergonhado.
8 – Outro fato que mostra a completa falta de renovação da política brasileira. Nos Estados menores, onde houve segundo turno, a disputa foi feita entre a tentativa de reeeleição e um ex-governador.
9 – E em Goiás, o máximo: dois ex-governadores, Marconi Perillo e Íris Resende, que nada fizeram no Poder, mas disputaram a vitória, ganhou Perillo. Terá sido o menos pior?
10 – No Pará, o ex-governados Simão Jatene, derrotou a governadora Ana Julia, ontem. Mas ela já começou a insistir com Lula, para que a eleição de senador seja anulada. Assim ela pode disputar uma das vagas, estará eleita.
11 – No Amapá, o novo governador é Camilo Capiberibe, que além de ser do Partido Socialista, é opositor de Sarney. Este já cassou a família Capiberibe, um deles do Senado.
12 – Lula estava furioso com Eduardo Braga, ex-governador do Amazonas, que fez o sucessor e se elegeu senador. Mas proporcionalmente, foi uma das maiores vantagens de Dilma, 80 por cento.
***
PS – Aí em cima. Estão os fatos. A conclusão desses fatos, só depois, mais tarde,  a partir de amanhã, mas é preciso esperar a posse.
PS2 – O que vai acontecer é muito difícil de analisar a partir de agora. Embora eu tenha analisado tudo em profundidade, com uma semana de antecedência.
PS3 – Na entrevista que concedi quarta-feira ao jornalista Marcone Formiga, da “Brasília em Dia” (e repetida aqui), todas as dúvidas concluídas, mas não definidas ou identificadas.
PS4 – Pois sempre coloquei que os problemas surgiriam e surgirão do relacionamento Dilma presidente, Lula ex-presidente, e o PMDB-lobista, ampla maioria.
PS5 – Já disse várias vezes e deixo amplamente em aberto. O que haverá, e tem que haver, não começará hoje ou amanhã.

Nenhum comentário: