Serra e Dilma, PSDB e PT, à procura do tempo perdido, ou seja, dos 20 milhões de votos. De Marina, do PV, dos dois ou de ninguém? Dilma precisa de 4 milhões, Serra, 17 milhões. Têm que rezar 25 dias. Em que tom ou fé?
Na verdade, estão todos tentando adivinhar. Não assumiram compromissos no primeiro turno, procuravam fugir uns dos outros e do debate,consideram que agora não podem repetir o fiasco, o fracasso, a campanha ingrata, exausta, inútil, inócua, sem uma afirmação.
Mas como não tem convicções, querem apenas “assaltar” os 20 milhões de votos que ficaram vagando, não pelo ar, mas pelas ruas, pelas televisões, pela internet, sem rumo, sem destino e sem identificação. Aí se atrapalham inteiramente.
Defender idéias, programas, projetos, lutar por tudo o que representaram durante uma vida inteira, é muito mais fácil do que representar o vazio, o nada, o inexistente, pelo menos nas suas vidas. Nisso, Serra e Dilma são rigorosamente iguais. Constatado o fato, por eles mesmos e os “coordenadores” todo-poderosos, ficam perplexos, não sabem o que defender ou o que negar.
Nenhum dos grandes partidos ou dos seus dois candidatos, tem convicções inabaláveis ou compreensíveis, vão se dizer “defensores” de posições que sempre condenaram. A busca ou a procura não é apenas pelos 20 milhões de votos de Dona Marina, mas também por aquilo que “agrada ou desagrada” ao cidadão-contribuinte-eleitor.
Vejam só: Dona Dilma, que pessoal e intransigentemente DEFENDIA O ABORTO, agora com a mesma “segurança”, acha “o aborto repulsivo, desprezível e deve ser considerado crime”. O eleitor vai acreditar na primeiraCONVICÇÃO ou na segunda?
Quem não acredita em nada, e isto serve para os dois, não convence ninguém quando AFIRMA ou quando NEGA.
Acomodação é uma empulhação, tanto quando procuram silenciar ou quando fazem força para gritar bem alto. Muitas vezes o silêncio é mais ouvido, (acreditam os candidatos) do que a gritaria. Mas verdadeiramente, uma parte importante do eleitorado só ouve o que quer. Outra parte já levou tudo colado e repetido. Hoje, incertos mesmo os votos do PV e de Dona Marina.
Os votos cobiçados são os de Dona Marina, vá lá, e do PV, mas nem Serra nem Dilma, nem o PSDB ou o PT, sabem como conversar. Diálogo de partido para partido não existe, nem tem programa, projeto, compromisso de governo, “plataforma”, como se dizia até 1930, na Primeira República, que já NASCEU eMORREU com 41 anos, como República Velha.
PSDB e PT, têm medo de oferecem muito a Dona Marina, e ela aí exigir demais. Ou então sugerirem de menos, e serem superados pelo adversário. É um leilão. Dona Marina, se compreender ou compreendesse a IMPORTÂNCIA DE SUA PARTICIPAÇÃO, poderia sem qualquer dúvida dar à campanha um formato inteiramente diferente do que vigorou no primeiro turno.
Mas nem o PT nem Dona Marina têm formação desenvolvimentista, não sabem ou não entendem o que devem colocar como pontos EXIGÍVEIS, INVIOLÁVEIS, INEGOCIÁVEIS. Só que eles são apenas VERDES, importante mas não definitivo. Como as “uvas”, o PV pode estar tão verde, que ainda seria muito cedo para saboreá-lo.
Os entendimentos entre Marina-Serra, Marina-Dilma, PSDB-PV, PT-PV, são tão vagos, fluidos, inexistentes, que nem começaram. OS partidos estão procurando encontrar porta-vozes que possam se entender na tentativa de conquistar esses 20 milhões de votos.
Mas estão caminhando na contramão da realidade e da importância. O PSDB está indo para FHC. Pessoalmente, é pouco, como ex-presidente é muito. Não tem cacife para negociar, concordar e fazer cumprir. O negociador do PSDB deveria ser Aécio Neves. Tudo que FHC não é, simpático, agradável, vencedor, podendo manter com Dona Marina conversa altamente interessante e se comprometendo a cumprir.
E mais: enquanto FHC é passado detestável e desprezível, Aécio é o futuro. E quem sabe, radioso e realizador? O PT também escolheu mal, ou se encaminha para o desastre da conversação. Os irmãos Vianna, se forem confirmados, têm uma única e “proverbial” origem: a territorial, são do Acre. Dona Marina é de lá, mas totalmente derrotada. Dos irmãos, Jorge, que já foi governador e agora é senador, boa gente, mas muito longe dos acontecimentos.
Tião, medíocre, carreirista, vingativo, quase não se elegia governador, os dois senadores (um deles o irmão) tiveram mais votos. Vingativo (como eu disse), queria ser presidente do Senado, não foi escolhido. Então, explodiu o PT e o ministro Palocci, revelando INACREDITAVELMENTE, informação que recebera de uma grande jornalista. Recebeu e garantiu que não revelaria nada, 15 minutos depois já MOSTRARA TUDO, desrespeitando o compromisso. Como Dona Marina e o PV, irão acreditar nele?
O negociador (a palavra é interlocutor, mas não gosto) do PT, deveria ser o presidente Lula. Podem fazer restrições, dizer, “mas ele é o presidente”. Ora, conversar com uma adversária para fortalecer a correligionária, é apenas 1 por cento do que ele vem fazendo.
Escolheu a candidata-poste, colocou-a na chapa, na urna e mostrou-a ao povo, percorreu o país inteiro com ela, agora não pode mais pedir a Dona Marina que transfira uma parte dos votos? Se vai conseguir, isso é outra história.
Quando Obama disse “Lula é o CARA”, podia estar brincando, ironizando, bajulando, Mas nesse momento INESQUECÍVEL para Dona Dilma e Dona Marina (embora não seja para o PT), Lula é que tem que ir procurar a candidata do PV, e dizer: “Marina, morena, preciso de você”. Lula é o Dorival Caymmi do PV.
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PS – Em suma, não há suma. O medo é que os votos sumam, não sejam acrescentados aos de Dona Dilma e do ex-governador José Serra no segundo turno.
PS2 – De qualquer maneira, Serra jamais será presidente, Dilma jamais saberá governar. Que República.
HÉLIO FERNANDES NO SITE DA TRIBUNA DA IMPRENSA (06.10.2010)
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